Revista TV Escola | março/abril 2010
A notícia circulou pelas ruas do bairro e não demorou para que pais e mães também se colocassem à disposição para posar ao lado dos filhos.
Para muitas famílias, essas foram as primeiras fotografias em que todos os membros apareceram juntos. “na minha casa, todo mundo ficou feliz,” diz thallys Willan silva, 8 anos. thallys não foi a única a experimentar a mudança de paradigma. a voz dos alunos começou a ser ouvida e, a partir daí, todos passaram a influenciar nas atividades, como oficinas de informática, aulas de tae-kwon-do e de futebol. até a escolha do uniforme escolar foi feita democraticamente. os estudantes desfilaram os diferentes modelos para uma plateia empolgada que lotou o pátio. ganhou a maioria.
Hoje, quem visita a escola encontra espaços bem organizados e escuta os professores falarem de projetos pedagógicos que entusiasmam os alunos. “a escola ficou tão bonita que dá orgulho na gente”, garante Jonhathan de souza vitorino, 9 anos. viagens têm sido planejadas, fato que há dois anos pareceria inviável. no refeitório impecável, cada um se serve e há sempre um alunomonitor auxiliando na organização dos colegas. Com a contratação de uma nutricionista, que observou o gosto dos jovens e treinou a equipe da cozinha para preparar pratos nutritivos e saborosos, o desperdício tornou-se mínimo.se no passado a instituição foi notícia nos jornais porque seus alunos não dispunham sequer de carteiras para se sentar, atualmente a pauta é outra. Em dezembro de 2008, a mídia local divulgou os projetos que receberam o Prêmio Paulo freire, da secretaria municipal de Educação de belo Horizonte. E lá estava a Professor Daniel alvarenga, conquistando o segundo lugar na categoria “Qualidade de vida” com o projeto “Comunidade em movimento”, que tem como objetivo a gestãoformação de líderes comunitários.além de investir em intercâmbios com outras comunidades que desenvolvem programas de sucesso, a diretoria promove encontros semanais em que todo o corpo escolar discute os problemas da região, faz reivindicações e dialoga com a administração municipal na busca de soluções.
Como afirma Dourado, “a democratização da escola é um processo de aprendizado e de luta,fundamentada na participação política como instrumento para a partilha de poder”. na zona norte de belo Horizonte, uma escola tornou-se exemplo de ambiente em que todos participam ativamente da educação. o cargo de diretora que andrea silva ocupa hoje é mais um exemplo do alcance da democracia. Ela foi eleita pela própria comunidade.Andrea Caroline Correia – de interventora -designada pela Secretaria Municipal de Educacao a diretora eleita por alunos e professores.16 Revista TV Escola | março/abril 2010 na condição de professor desafiado a tornar mais interessante a tarefa de ensinar e aprender, qual seria a sua sugestão? se cogita trazer para a sala de aula um pouco do mundo virtual que tanto fascina os alunos, saiba que há iniciativas na internet – como o Portal do Professor – que podem ajudar na exploração das possibilidades oferecidas pelas mídias digitais.Criado em 2008 pelo ministério da Educação, o Portal do Professor (www.portaldoprofessor.mec.gov.br) soma hoje cerca de um milhão e duzentas mil visitas. o site, que tem o objetivo de apoiar o processo de formação do professor e contribuir para sua inserção no mundo digital, já atraiu a atenção de mais de 700 mil visitantes únicos.
Jorge Henrique vieira santos, professor de língua Portuguesa, literatura e Redação na cidade sergipana de nossa senhora da glória, faz parte deste universo que tem o Portal entre os seus favoritos. “além de proPonte entre a TECNologIA e a SAlA DE AulA maRa figUEiRaRevista TV Escola | março/abril 2010 17mundovirtual porcionar intercâmbio com outros professores que desenvolvem bons trabalhos utilizando as novas tecnologias, ele ainda me permite desenvolver e compartilhar as minhas experiências com outros profissionais da educação”, conta ele, que trabalha no Colégio Estadual manoel messias feitosa e na Escola municipal tiradentes.é pelo Espaço da aula que o Portalconvida os educadores a criar, visualizar e compartilhar planejamentos que costumam conter recursos multimídia, como vídeos, animações e áudio.
Atualmente, há cerca de 1.200 aulas publicadas, sendo que qualquer professor pode colaborar com as propostas postadas por meio de edição ou comentário.ainda contabilizando itens que colaboram para repensar estratégias dentro e fora da sala de aula, mais de três mil recursos multimídia públicos de todo o mundo – e para todos os níveis de ensino – estão à disposição dos visitantes, bem como indicações de cursos e materiais de estudo para subsidiar a formação dos profissionais de educação.fazem parte do Portal do Professor também ferramentas da web 2.0 – a nova geração da internet, que tem foco na colaboração, interatividade e na possibilidade de qualquer um ser produtor de conteúdo. fórum e chat são exemplos de ferramentas que permitem a interação entre os visitantes. “além de ser uma forma de colocar em contato pessoas de diferentes pontos do Brasil, são canais em que uma pessoa que já desenvolveu determinada competência ligada às novas tecnologias pode ajudar outra, que ainda está começando a se familiarizar”, explica a pedagoga Carmem Prata, coordenadora do Portal do Professor.segundo Carmen Prata, o propósito era criar um espaço para o professor onde pudessem ser organizadas informações ligadas às novas tecnologias, levando em conta que, pela sua rotina, o profissional da educação tem pouco tempo para fazer buscas. “não queríamos, no entanto, que o professor apenas acessasse e usasse essas informações, mas, também, refletisse sobre como elas podem ser empregadas”, esclarece.múlTiPlOs DEsTiNOs Na iNTERNET.
Para José valente, pesquisador do núcleo de informática aplicada à Educação da universidade Estadual de Campinas e especialista em educação a distância, o Portal do Professor é uma iniciativa prática para
o público a que se destina. “Pela primeira vez, o ministério da Educação coordenou e colocou em um só lugar informações ligadas à educação e à tecnologia para os professores”, avalia.
Em seguida, porém, José valente alerta os profissionais da educação para a preservação do que ele chama de “espírito de caçador”: a disposição de navegar pela internet e buscar portais, sites, blogs ou
mesmo repositórios de recursos multimí-dias que mais se encaixem em seus objetivos pedagógicos, tendo sempre uma visão crítica. “os recursos da web 2.0 ampliaram a função do computador na educação.
textos, imagens, vídeos, arquivos de áudio funcionam como recursos de representação do conhecimento. mas o professor tem de estar preparado para olhar para isso e imagENs sxC.
Antes, o professor era a única fonte de informação. Hoje, está tudo na internet. É ingênuo tentar competir.18 Revista TV Escola | março/abril 2010 verificar se o que encontrou tem qualidade, além de perceber qual viés que quem o produziu está dando a ele.”Exercitar o olhar crítico é o que procura fazer Ângela Dutra, professora de inglês da Escola andré leão Puente, de Canoas, Rio grande do sul. Ela busca no Portal do Professor ideias para as suas aulas, mas também diz “navegar muito à deriva pela rede” procurando por informações em geral. “um dos primeiros sites que conheci foi o Domínio Público (www.dominiopublico.gov.br), que meus alunos deste ano usaram bastante para produzir apresentações
em slides sobre autores brasileiros. Pelo portal Educarede (www.educarede.org.br), também já fiz dois cursos de educação a distância gratuitos e bem produtivos.”Jorge Henrique vieira santos é mais um usuário do Portal com horizontes amplos na internet.
Ele tem, por exemplo, a biblioteca virtual do Estudante de língua Portuguesa (www.bibvirt.futuro.usp.br) entre os endereços de sua preferência. “Eu a utilizo bastante. também já acessei e usei muitos conteúdos do Domínio Público, sobretudo vídeos. Envieiaté um livreto de minha autoria, em literatura de Cordel, para disponibilizá-lo no site.”REPOsiTóRiOssem sombra de dúvida, há muitas páginas na rede que funcionam como repositórios – locais em que são depositados materiais para livre consulta e acesso – e o que diferencia o Portal do Professor desses espaços são as estratégias de uso do conteúdo em sala de aula.Essa ponte entre a tecnologia e a prática pedagógica é seguida por outros projetos, como o Cesta (Coletânea de Entidades de suporte ao uso de tecnologia na aprendizagem – www.cinted.ufrgs.br/CEsta/cestadescr.html), que organiza e armazena atualmente quase 400 objetos educacionais – como vídeos, simulações, jogos – que podem ser utilizados livremente em sala de aula.“outras iniciativas interessantes, voltadas para a área de educação na internet, são portais desenvolvidos pelas secretarias de educação de estados como Rio de Janeiro (www.conexaoprofessor.rj.gov.br), Paraná (www.diaadiaeducacao.pr.gov.br) e minas gerais (www.educacao.mg.gov.br)”, conta Carmem Prata. segundo ela, outros estados também estão criando seus portais, o que considera muito enriquecedor. “sobretudo porque o Portal do Professor não quer ser o único a existir, mas, sim, ser uma porta para divulgar informações que possam ser úteis para todos os profissionais da educação.”Com o auxílio de canais como esses, a ideia é que os professores possam transformar suas aulas em algo mais interessante e que seus alunos possam ser co-participantes no processo de aprendizagem e ensino, em vez de meros espectadores. “antes, o professor aparecia como única fonte de informação. Hoje, toda a informação está disponível na internet. seria ingênuo tentar competir. o papel do professor delineado hoje é outro. é ter uma posição crítica com relação ao que é oferecido, checar a informação e dialogar com o aluno”, finaliza José valente.
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